2 de julho de 2011

Minas Gerais e todo o Brasil de luto: Aos 81 anos morre Itamar Franco

Morreu às 10h15 deste sábado, em São Paulo, o ex-presidente da República Itamar Franco. Eu estava “no ar” pela Rádio Jornal, apresentando ao lado de José Geraldo Gué o programa “FAZ”, levado ao ar todos os sábados de dez ao meio-dia. Não tínhamos conhecimento de sua morte, e alguns minutos após abrirmos o programa, apresentei como meu destaque da semana o grave quadro de saúde em que se encontrava o senador, relatando aos ouvintes que esta era a mais delicada batalha travada por ele, ao mesmo tempo em que desejávamos seu restabelecimento.
Nosso acompanhamento constante dos fatos, pela internet, em tempo real, nos trouxe a trágica notícia, que imediatamente compartilhamos com nossos ouvintes. Tive um contato muito próximo junto ao ex-presidente por ocasião da última campanha eleitoral, pois em Leopoldina e região da Zona da Mata dediquei-me, juntamente com meus correligionários, na busca de apoio popular e votos a Aécio Neves e Itamar Franco, e ao governador Antônio Anastasia.

Nosso comício na Praça General Osório, em Leopoldina, com a presença de Itamar Franco
(dentre várias autoridades) acompanhando o Governador Anastásia.

Na reta final da campanha, Anastasia e Itamar prestigiaram Leopoldina, onde chegaram de helicóptero no campo do Esporte Clube Ribeiro Junqueira, sendo recebidos com carinho e apreço. Naquela ocasião, fui o primeiro a saudar Sua Excelência, que olhando em meus olhos, agradeceu pela recepção e pelo apoio. Estava forte o Itamar, otimista, dedicado àquele projeto político. Memorável aquele instante.

Tive a honra de ser o primeiro a cumprimentar Itamar Franco ao chegar em Leopoldina.

Abre-se uma lacuna na vida pública de Minas Gerais e do Brasil. Vai-se o homem, ficam suas obras, seu legado. Itamar Franco representava um dos últimos e raros exemplos de ética, correção e probidade, de uma geração que nem todos conhecem, não são muitos que cultivam, e poucos os que os reverenciam como referência. Que Deus o ampare na passagem para a vida espiritual. Nossas condolências aos familiares e amigos. Descanse em paz, Itamar Franco.

Abaixo, uma homenagem a Itamar Franco, com o noticiário de sua morte

Filho de Augusto César Stiebler Franco e Itália Cautiero Franco, Itamar Augusto Cautiero Franco nasceu a bordo de um navio em 28 de junho de 1930. O pai de Itamar havia morrido meses antes de seu nascimento e sua mãe registrou o filho em Salvador (BA), onde morava um tio. A família era de Juiz de Fora e ele se mudou para Minas Gerais com poucos meses. No município, cresceu e se formou em Engenharia Civil em 1954. Foi durante o curso que iniciou sua vida pública, participando da política estudantil.

Ficamos perplexos, todos nós, quando soubemos de sua leucemia em maio, descoberta durante exames de rotina. A leucemia, segundo seus médicos, estava controlada e ele reagia bem ao tratamento quimioterápico, mas, contraiu uma pneumonia rara, que se agravou. Estava no hospital Albert Einstein, em São Paulo quando sofreu um AVC.

Ainda na década de 50, se filiou ao PTB e tentou se eleger vereador e, depois, vice-prefeito em Juiz de Fora. Com o golpe militar em 1964 e a instalação de um regime de bipartidarismo, Itamar migrou para o MDB, sigla pela qual conquistou seu primeiro mandato eletivo, na prefeitura de Juiz de Fora, em 1967. No pleito de 1972, foi reeleito, mas deixou o cargo um ano depois para concorrer, com sucesso, a uma vaga no Senado - sendo reeleito em 1982, já no PMDB. Em 1986, sem apoio para ser candidato ao governo mineiro em seu partido, se filiou ao PL, mas foi derrotado por Newton Cardoso, candidato de sua ex-agremiação.

Com a derrota, Itamar voltou ao Senado para cumprir o restante de seu mandato, que ia até 1990. No período, participou da Assembléia Nacional Constituinte e das campanhas para a volta das eleições diretas. Em 1989, trocou novamente de sigla e foi para o desconhecido Partido da Reconstrução Nacional (PRN), para ser candidato à vice na chapa de Fernando Collor de Mello, que saiu vencedora.

Criticou atos de Collor, como os processos de privatizações, mas se manteve discreto. Com o surgimento das denúncias de corrupção contra o governo e o início da campanha pelo impeachment do presidente, a figura pacata de Itamar ganhou espaço. Em setembro de 1992, quando a Câmara decidiu autorizar a abertura do processo contra Collor, Itamar assumiu a vaga interinamente. Três meses depois, o presidente renunciou ao cargo e o mineiro foi conduzido à Presidência, sem uma posse formal.

Eram tempos de inflação na casa dos 1.100% quando Itamar Franco assumiu o país. Esta inflação chegaria a 6.000% em 1993. Crise para todos os lados da República, e a presença firme de Itamar chamou atenção pela coragem em trocar o comando do Ministério da Fazenda diversas vezes, até que Fernando Henrique Cardoso, que exercia o cargo de ministro das Relações Exteriores, assumiu o Ministério da Fazenda com um projeto para a implantação do Plano Real. Com o plano, era criada uma unidade real de valor (URV) para todos os produtos, desvinculada da moeda vigente na época, o Cruzeiro Real. Cada URV correspondia a US$ 1. O modelo conseguiu atrair capitais estrangeiros e foi exitoso no combate à inflação em um curto período. Apesar de ousada, a medida estabilizou a economia brasileira.

Com o sucesso do real, Itamar elegeu Fernando Henrique Cardoso seu sucessor em 1995 e deixou o Palácio do Planalto com altos índices de aprovação. Até a eleição seguinte, Itamar foi embaixador em Portugal e na Organização dos Estados Americanos (OEA), nos Estados Unidos.

No início de 2011, Itamar Franco foi entrevistado em uma série do canal Globonews com ex-presidentes da República. Na ocasião, ele afirmou que seus feitos durante o governo não eram lembrados pelos críticos na atualidade. "Esqueceu-se e, aliás, se esquece, de que eu entreguei o País democraticamente. Ninguém fala, ninguém fala. Só falam de mim 'é o cabelo (caracterizado por um topete), é o não sei o que, é o Carnaval', essas bobagens. Mas esqueceram que eu fiz uma reunião logo de início, no Alvorada, com todos os presidentes dos partidos e fiz a seguinte proposta, a todos: 'olha, eu assumi o governo pela Constituição e pela vontade de Deus, mas estou disposto, se os senhores entenderem, eu estou pronto a convocar as eleições'".

No Carnaval de 1994, Itamar foi fotografado ao lado da modelo Lílian Ramos em um camarote na Marques de Sapucaí, no Rio de Janeiro, após ela desfilar por uma agremiação. A polêmica ficou por conta de a modelo estar só de camiseta e sem calcinha, detalhe evidenciado pelo ângulo das imagens.

Após sair do governo, Itamar se tornou um crítico da política de Fernando Henrique Cardoso. Em entrevista à Globonews, ele destacou como uma das principais críticas a reeleição, estabelecida no Brasil após a Constituição ser alterada no governo FHC. "Jamais ele disse que seria candidato à reeleição. Eu considero até hoje um grande mal, quebrou a ordem constitucional brasileira. Na reeleição, você não distingue se é presidente, se é candidato", afirmou. Além disso, ele afirmou que, logo após deixar Brasília, ficou incomodado com o fato de o real ser associado apenas a FHC, e não ao seu mandato. "Se ele quiser ficar com o Plano Real para ele, ele fica", afirmou.

Ao retornar ao Brasil e ao PMDB, o político tentou se lançar candidato à Presidência para as eleições de 1998, mas encontrou resistência no partido, que apoiaria a reeleição do tucano FHC. Decidiu, então, tentar o governo de Minas Gerais, e foi bem sucedido. No primeiro dia, decreta a moratória para renegociar a dívida do Estado, gerando uma crise com a presidência do Banco Central. A suspensão do pagamento da dívida durou pouco mais de um ano e gerou retaliação por parte do governo federal, que suspendeu repasses como o do Fundo de Participação dos Municípios.

Outros episódios que marcaram o governo Itamar em Minas foram a retomada, por meio judicial, do controle acionário da estatal elétrica Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), parcialmente vendida no governo anterior, de Eduardo Azeredo (PSDB), e a reação de Itamar após a intenção do governo federal de privatizar a estatal Furnas, projeto que não foi levado adiante. Após a eleição de 2002, na qual apoiou Aécio Neves (PSDB) para ser seu sucessor, Itamar foi nomeado pelo presidente Lula como embaixador brasileiro na Itália.
De volta ao Brasil após deixar a embaixada na Europa, Itamar tentou se candidatar a presidente pelo PMDB em 2006, mas desistiu para retornar ao Senado Federal. Acabou perdendo a indicação do partido para Hélio Costa. Em 2007, ele assumiu a presidência do Conselho do Banco do Desenvolvimento de Minas Gerais.

Em 2009, sinalizando intenção de disputar a sucessão presidencial no ano seguinte, Itamar Franco se filiou ao PPS e declarou seu apoio a Aécio. No discurso de filiação, ele ainda criticou o presidente Lula e o PT. Mais tarde, Aécio e Itamar anunciaram suas candidaturas ao Senado e foram eleitos, derrotando o petista Fernando Pimentel.

Ao voltar a Brasília, Itamar passou a integrar a comissão da reforma política da Casa e defendeu o fim do voto obrigatório e a reeleição. Ele também defendeu um veto à possibilidade de retorno de um político que cumpriu dois mandatos no Planalto. "Quem já foi presidente duas vezes não poderia concorrer mais. Vamos dar oportunidade a outras pessoas. O cidadão fica oito anos no poder e quer voltar?", disse.
No último dia 25 de maio, Itamar Franco anunciou que um exame de rotina o diagnosticou com leucemia em estágio inicial. Ele se licenciou do Senado e se internou no Centro de Hematologia e Oncologia do hospital Albert Einstein, em São Paulo.

No final de junho, Itamar foi internado na UTI devido a uma pneumonia. Na sexta-feira, o hospital havia informado que o político apresentou uma remissão completa no quadro de leucemia, o que não equivale à cura da doença, mas, conforme o Instituto Nacional do Câncer (Inca) representa um estado de aparente normalidade que se obtém após a quimioterapia. Apesar da melhora, o parlamentar apresentava um "quadro grave" de pneumonia aguda e respirava com a ajuda de aparelhos.

Aos 81 anos, Itamar estava no início de seu terceiro mandato como senador, de 2011 até janeiro de 2019. Por duas vezes foi prefeito da “Manchester mineira”, Juiz de Fora.

Referências: Portal Terra, Arquivo Pessoal de Júlio Cesar Martins, Rádio Jornal AM de Leopoldina, Jornal Inconfidência.

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Júlio Cesar Martins Gonçalves é natural de Leopoldina / MG. Radialista, Jornalista, Mestre de Cerimônias, Professor e Historiador graduado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cataguases / MG. Atuou nas principais emissoras de Rádio da Zona da Mata e nas Rádios Mundial AM e Globo FM do Rio de Janeiro (1982), ambas do Sistema Globo de Rádio. Foi locutor comercial e de cabine da TV Globo Juiz de Fora (1989). Apresentador de grandes eventos em Leopoldina e região nos últimos trinta anos. Exerceu o cargo de Chefe da Seção de Imprensa da Prefeitura de Leopoldina no primeiro mandato do Prefeito José Roberto de Oliveira. Ex-assessor na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, ao lado dos deputados estaduais Bené Guedes e Bráulio Braz. Ex-assessor da Câmara Municipal de Leopoldina, na gestão do Presidente Ricardo Ávila. Após a criação da Secretaria de Meio Ambiente pelo Prefeito Bené Guedes foi nomeado Secretário de Meio Ambiente de Leopoldina (2009) alcançando grandes conquistas e avanços para o município. Ex-Presidente da Conselho Municipal de Meio Ambiente. Ex-Presidente da Lira Musical Primeiro de Maio. Membro do Rotary Club Leopoldina. Presidente do PMN - Partido da Mobilização Nacional - Leopoldina. Candidatou-se a deputado federal nas últimas eleições de 2010, apoiando incondicionalmente o Governador Antônio Anastasia, reeleito, além dos candidatos Aécio Neves e Itamar Franco, ao Senado, ambos vitoriosos. Obteve 6.135 votos em Leopoldina (22,19 do eleitorado), de um total de 7.092 votos obtidos em 91 municípios mineiros. Incluiu Leopoldina entre as três maiores votações percentuais do PMN em Minas Gerais. É o 5º Suplente da legenda para a Câmara dos Deputados. Em Novembro de 2010, após as eleições, retomou suas atividades profissionais na Imprensa, fundando o Jornal Inconfidência - publicação quinzenal, em cores e preto e branco, cobrindo Leopoldina e região. Clique aqui para me enviar um e-mail, ou escreva para: juliodaradio@gmail.com.


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