18 de abril de 2011

18 de Abril - O dia é do Paulo.

Todo dia 18 de abril é muito marcante pra mim. Meu saudoso pai, Paulo Gonçalves da Silva, nasceu nesta data.

Quem foi Paulo?
Baixinho, franzino, barbinha por fazer, gostava de calçar chinelo de dedo no dia a dia. Pra trabalhar era uma surrada botina. Boa parte de sua vida usou macacão, uniforme dos mecânicos, que mais pareciam uma legião de soldados, lutando para sobreviver.

Nasceu na comunidade rural de São Lourenço. Era o mais velho de uma extensa prole, que vivia na mais absoluta dificuldade. Meu pai costumava me contar que muitas e muitas vezes sua mãe, bondosa senhora, deixava de comer para repartir com a filharada. Prato principal: mingau de fubá com couve. Seu primeiro par de sapatos foi calçar aos dezoito anos, presente do primo e praticamente um segundo pai, o Tatão, que até hoje continua com seu ar paternal. Reside com a família, no bairro Quinta Residência.

Paulinho serviu o tiro de guerra em Leopoldina, mas foi concluir o período obrigatório no Exército servindo no 10º, em Juiz de Fora. Trabalhou na Fábrica, em Leopoldina, onde boa parte da população da época, final dos anos 50 e toda a década de 60 tinha como referência de emprego.

Casou-se com minha mãe, Florinda, em 1963. Eu nasci em 1965. Meu pai falava das dificuldades que enfrentou até ser mecânico, no Posto Imperial. Foi lavador noturno no posto, trabalhou como bombeiro, depois ajudante na oficina e daí o ofício que o fez respeitado entre caminhoneiros e mecânicos da cidade e região.

Por duas vezes, que me lembro, foi para São Bernardo do Campo, como funcionário do Posto Imperial, aperfeiçoar-se na fábrica da Mercedes. Ficava às vezes um mês, retornando nos finais de semana. Numa destas voltas, trouxe-me um radinho portátil, que passou a ser meu companheiro inseparável. O radinho, me lembro até hoje de sua marca: Dunga (talvez pelo tamanho tivesse esse nome) tinha uma alça de mão, e eu andava de um lado pro outro ouvindo a Rádio Leopoldina, a Rádio Cataguases, e naquele tempo pegavamos em Leopoldina várias emissoras, o que lamentavelmente hoje não conseguimos mais ouvir devido a um zumbido contínuo e incômodo. Acho que minha ligação com o Rádio começou ali, pois aquele rádio representava a figura daquele homem que me fazia tanta falta: meu pai.

Concluiu o Primário (estudando à noite no Grupo Botelho Reis). Está muito presente em minha memória o dia em que ele, orgulhoso, chegou em casa com seu diploma, o certificado de conclusão do curso.

Todo domingo, pela manhã, me levava ao Posto Imperial, em seu primeiro endereço, na Rua José Peres, onde eu pude ter meu primeiro contato com uma máquina de escrever. Tinha 4 ou 5 anos. Depois, caminhávamos pelo asfalto, passando pelo viaduto até o trevo do Alto do Cemítério e de lá pra casa. Moravamos onde até hoje residem minha mãe e minha tia, na Rua Marechal Deodoro.

Depois de muitos anos no batente como mecânico, se desgostou e passou a ficar na Padaria Bruno, ajudando nos afazeres. Acho que estava desestimulado profissionalmente. Nunca deixou de ficar na fila do INPS em nome de pessoas com problemas de saúde, para marcação de fichas, missão que desempenhava sem nada cobrar, por pura amizade e solidariedade.

É bem verdade que gostava de tomar "uns goles" com os amigos, e este vício lhe fez muito mal. Separou-se de minha mãe, embora vivessem sob o mesmo teto. Veio o diagnóstico cruel que, sabiamos, era mais uma sentença de morte. Da confirmação da doença até sua morte, foram exatos doze meses. Teve um câncer na língua, que o fazia sofrer muito. Sofríamos todos nós, e como na maioria das vezes ouvimos, nós já pediamos a Deus que lhe poupasse de tanta dor.

Magro, abatido, judiado pelas circunstâncias, jamais perdeu seu senso de humor. Ao amanhecer do dia 5 de novembro de 2000, o telefone toca em casa. Era minha tia dizendo que sua situação havia piorado muito. Rapidamente me desloquei até nossa casa, e pude ouvir por alguns minutos, as batidas de seu coração. Com meu rosto encostado em seu peito, vivi os piores momentos de minha vida. Pude escutar, pelas últimas vezes, as batidas da vida naquele homem que significou tudo pra mim.

Hoje, é um dia de homenagem a Paulo. Dia em que comemoro, como seu filho, seu nascimento.

Restaram lembranças como a de seu orgulho em dizer que era nativo do signo de Áries, e citava como exemplos de que Áries é especial os também aniversariantes Chico Anysio, Roberto Carlos e Ayrton Senna.

Há dez anos meu pai faleceu. Não dá pra descrever a sensação de perda, a falta que ele me faz. Agarro-me à recordação de nossos momentos, desde minha infância até seus últimos dias ao lado deste seu único filho.

Não tenho dúvidas de que fui muito amado, mas a maioria das pessoas, e aí me incluo, não percebe da importância desta relação entre pais e filhos enquanto estamos aqui, reunidos nesta vida.

Hoje, elevo meus pensamentos ao Alto, e dedico uma prece ao meu querido pai, Paulo.

Mecânico, um ótimo mecânico de caminhões. Agradeço a ele pela criação e formação que recebi. É claro que minha mãe é tão responsável pela minha existência quanto ele, mas o velho já partiu e partiu sofrendo, sofrendo muito. Por este motivo, hoje, data de seu nascimento, a homenagem é inteiramente dele.

Meu pai adorava os netos. Adorava minha esposa. Todos nós o amávamos, e neste 18 de abril desejamos a voce, pai, avô, sogro, companheiro, amigo, onde quer que você se encontre, um Feliz Aniversário.


postado por Júlio Cesar Martins às

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

ME EMOCIONEI COM A POSTAGEM. ABRAÇOS

18 de abril de 2011 às 14:19  

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Júlio Cesar Martins Gonçalves é natural de Leopoldina / MG. Radialista, Jornalista, Mestre de Cerimônias, Professor e Historiador graduado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cataguases / MG. Atuou nas principais emissoras de Rádio da Zona da Mata e nas Rádios Mundial AM e Globo FM do Rio de Janeiro (1982), ambas do Sistema Globo de Rádio. Foi locutor comercial e de cabine da TV Globo Juiz de Fora (1989). Apresentador de grandes eventos em Leopoldina e região nos últimos trinta anos. Exerceu o cargo de Chefe da Seção de Imprensa da Prefeitura de Leopoldina no primeiro mandato do Prefeito José Roberto de Oliveira. Ex-assessor na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, ao lado dos deputados estaduais Bené Guedes e Bráulio Braz. Ex-assessor da Câmara Municipal de Leopoldina, na gestão do Presidente Ricardo Ávila. Após a criação da Secretaria de Meio Ambiente pelo Prefeito Bené Guedes foi nomeado Secretário de Meio Ambiente de Leopoldina (2009) alcançando grandes conquistas e avanços para o município. Ex-Presidente da Conselho Municipal de Meio Ambiente. Ex-Presidente da Lira Musical Primeiro de Maio. Membro do Rotary Club Leopoldina. Presidente do PMN - Partido da Mobilização Nacional - Leopoldina. Candidatou-se a deputado federal nas últimas eleições de 2010, apoiando incondicionalmente o Governador Antônio Anastasia, reeleito, além dos candidatos Aécio Neves e Itamar Franco, ao Senado, ambos vitoriosos. Obteve 6.135 votos em Leopoldina (22,19 do eleitorado), de um total de 7.092 votos obtidos em 91 municípios mineiros. Incluiu Leopoldina entre as três maiores votações percentuais do PMN em Minas Gerais. É o 5º Suplente da legenda para a Câmara dos Deputados. Em Novembro de 2010, após as eleições, retomou suas atividades profissionais na Imprensa, fundando o Jornal Inconfidência - publicação quinzenal, em cores e preto e branco, cobrindo Leopoldina e região. Clique aqui para me enviar um e-mail, ou escreva para: juliodaradio@gmail.com.


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